Grupos de Estudo e Seminários de Leitura

Trotskismos e América Latina

Os trotskismos, apesar de constituírem uma corrente política presente na América Latina, poucas vezes foram considerados como uma corrente intelectual. Sem dúvida, o tamanho e a própria marginalidade de alguns grupos contribuíram para isso, mas também uma falta de conexão entre o debate político e o debate acadêmico e também a hegemonia de correntes historiográficas, políticas e sociológicas não marxistas e, nas correntes marxistas acadêmicas, a hegemonia das interpretações stalinistas, contribuíram para excluir as interpretações trotskistas sobre o nosso continente do debate intelectual.

Consideramos que, de certa maneira, para o debate intelectual, os trotskismos poderiam ser classificados como parte do “marxismo esquecido” descrito por Horácio Tarcus em seu livro sobre Milcíades Peña e Silvio Frondizi – o primeiro integrante das correntes trotskistas, enquanto o segundo não se reivindicava trotskista, mas era identificado como um (TARCUS, 1996). Retirar estas elaborações do “esquecimento” e investigá-las com rigor nos parece uma empreitada importante, ainda mais, quando partimos da consideração de que os trotskistas conseguiram “formular exames conjunturais e estruturais de caráter histórico, político e econômico, tanto em nível do Estado-Nação como internacional, instigantes e inovadores” (KAREPOVS, 2005, p. 7).

O objetivo deste grupo de estudos é justamente estudar as elaborações dos trotskistas sobre o continente latino-americano, refletindo sobre o conjunto, mas também sobre alguns países específicos, buscando constituir a ideia de que o trotskismo tem uma interpretação particular, com divergências internas próprias das correntes intelectuais, sobre o que é e como se formaram as sociedades latino-americanas.

Trabalhamos com a ideia de trotskismos, no plural, pois pensamos que por mais que as referências básicas sejam semelhantes, a própria história política e intelectual da corrente é plural: é impossível reivindicar um único trotskismo, dada a diversidade das elaborações e das correntes que partiram das mesmas teses elaboradas por Trotsky. Investigar as diferenças na elaboração intelectual dessas correntes é também parte da compreensão de como o próprio movimento se fragmentou e não conseguiu, até hoje, encontrar-se como uma única corrente política e intelectual.

Proposta de programa de debates

Organizamos as leituras e debates de nosso grupo de estudos em dois momentos:

  • O primeiro, para a compreensão dos debates do próprio Trotsky sobre a América Latina, presente nos Escritos Latino-americanos, no qual o autor dá atenção aos problemas do continente e, principalmente, do México.
  • Em um segundo momento, passaremos ao estudo de correntes específicas do trotskismo latino-americano, iniciando pelas elaborações da corrente brasileira Liga Comunista Internacionalista. Para esta etapa, nos debruçaremos sobre o livro Na contracorrente da história, com documentos do trotskismo brasileiro organizados por Fulvio Abramo e Dainis Karepovs.

Bibliografia Inicial

ABRAMO, F.; KAREPOVS, D. (Orgs.). Na contracorrente da história. São Paulo: Sundermann, 2015.

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MEUCCI, I. A Revolução Cubana e o movimento trotskista na América Latina : impactos na construção de um projeto político (1959-1974). Dissertação de Mestrado. Campinas: IFCH/Unicamp, 2015.

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