PEPOL-Unicamp: breve apresentação

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Este texto foi redigido com o propósito de apresentar o PEPOL-Unicamp no Boletim da International Gramsci Society-Brasil, por essa razão destaca as pesquisas sobre Antonio Gramsci produzidas no âmbito do Laboratório.

 

O Laboratório de Pensamento Político da Universidade Estadual de Campinas (PEPOL-Unicamp), sediado no Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) congrega pesquisas na área de história do pensamento político e história intelectual. Sua origem remonta ao Grupo de Pesquisa Marxismo e Teoria Política (GPMTP), criado em 2004, mais tarde renomeado para Grupo de Pesquisa Marxismo e Pensamento Político (GPMPP). Foi no âmbito desse grupo que em 2006 teve início um seminário de leitura dos Quaderni del carcere de Antonio Gramsci, reunindo professores e estudantes de graduação e pós-graduação da Unicamp. O seminário, que durou até 2012 estimulou a realização de cursos e pesquisas sobre o pensamento de Antonio Gramsci. 


Resultado dessa intensa atividade foi a publicação, em 2008 de O Laboratório de Gramsci (BIANCHI, 2008). A trilha aberta por esse livro foi percorrida por um importante conjunto de pesquisas sobre as fontes do pensamento gramsciano e o ambiente intelectual no qual o sardo destilou sua filosofia da práxis (MUSSI, 2014, 2020; GALASTRI, 2015; PASSOS; ARECO, 2017; ALIAGA, 2017; ARECO, 2018; AMUSQUIVAR, 2021; FERNANDES, 2023). Essas investigações já evidenciavam o caráter fortemente internacionalizado das pesquisas realizadas no âmbito do Laboratório. Ao longo dos anos, o PEPOL recebeu um número significativo de estudiosos e estudiosas da obra de Gramsci, latino-americanos e europeus, e vários de seus integrantes realizaram estágios de pesquisa em Roma, Bologna, Torino, New York, Buenos Aires e Paris.


Nos últimos dez anos os estudos gramscianos no PEPOL passaram a dialogar mais intensamente com as pesquisas filológicas realizadas no âmbito da Edizione Nazionale degli scritti di Antonio Gramsci e pesquisadores e pesquisadoras vinculados ao Laboratório participaram de diversas edições da Ghilarza Summer School. Marco importante desse diálogo foi a realização do I Colóquio Internacional Antonio Gramsci, organizado pela International Gramsci Society, International Gramsci Society-Brasil e pela Fondazione Gramsci. O evento, que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amparo de São Paulo (Fapesp), foi sediado pelo PEPOL na Unicamp. Dentre os resultado desse evento destaca-se a publicação de um livro que de certa forma sintetiza o estado da arte dos estudos gramscianos contemporâneos (BIANCHI; MUSSI; ARECO, 2019). 


Recentemente o PEPOL deu mais um importante passo nessa direção, com a criação da Escola de Inverno de Estudos Gramscianos, uma iniciativa internacional realizada com a colaboração da Università di Pavia, da Fondazione Gramsci e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Realizada virtualmente, com a participação de professoras e professores do Brasil, Itália, México, Argentina e Inglaterra, a Escola reuniu mais de cem participantes da América Latina para discutir os recentes avanços nas pesquisas filológicas a a relação entre filologia e política. 


Ao longo de sua trajetória o PEPOL sempre deu atenção aos métodos e às ferramentas de pesquisa necessários para a produção de investigações que aliavam ao mesmo tempo o rigor e a criatividade. Essa preocupação levou à realização de seminários metodológicos e à construção de instrumentos de pesquisa de uso coletivo. Dentre as iniciativas desenvolvidas destaca-se a criação da Biblioteca Digital de Pensamento Italiano, um repositório online aberto e em constante expansão que reúne atualmente centenas de livros digitalizados e 30 periódicos italianos publicados, abrangendo um arco de tempo que vai do Risorgimento italiano até o final do regime fascista. A Biblioteca pode ser acessada a partir do site do PEPOL: https://pepol.ifch.unicamp.br/postagens/biblioteca-digital-de-pensamento-politico-italiano.
O PEPOL também começou a realizar estudos sobre a circulação e tradução das ideias de Gramsci em diferentes contextos nacionais. A pesquisa de Rodrigo Santaella Gonçalves (2015) sobre o grupo Comuna na Bolívia e as investigações de Camila Góes  sobre os subaltern studies (GÓES, 2018) e, mais tarde, seu estudo comparativo sobre as revistas Presença e Pasado y Presente (GÓES, 2021) foram a antessala dessas novas investigações. A estes estudos se seguiram investigações sobre o antigramscismo na América Latina (MUSSI; BIANCHI, 2022) e sobre a recepção das ideias de Gramsci por José Guilherme Merquior (BIANCHI, 2023), Fernando Henrique Cardoso (MUSSI; HERCOVICI, 2023) e Mauricio Schwartzman (MONGES, 2019).  


O PEPOL é um espaço plural de pesquisa e reúne investigações sobre temas variados. Gramsci é sempre uma referência fundamental nessas pesquisas, mas não a única. A partir de 2017, o professor André Kaysel uniu-se ao grupo de pesquisa, trazendo consigo novos interesses de pesquisa, em particular o pensamento político latino-americano, sobre o qual publicou dois importantes livros (KAYSEL, 2012, 2018). Foi nesse ano que o PEPOL-Unicamp assumiu seu nome e configuração atual, indicando uma ampliação dos temas e interesses de investigação. Com Daniela Mussi, Kaysel levou a cabo uma investigação robusta sobre o pensamento de Francisco Weffort (MUSSI; CRUZ, 2020; KAYSEL; MUSSI, 2022). Atualmente Kaysel desenvolve pesquisa sobre o anticomunismo na América Latina (GIMÉNEZ; KAYSEL, 2021; KAYSEL, 2022). Em um terreno contíguo aos estudos de Kaysel estão as novas pesquisas sobre o fascismo italiano e o integralismo brasileiro que tem sido desenvolvidas por Bianchi e Mussi, bem como as investigações sobre a ideologia liberal na América Latina (GIMÉNEZ, 2021), o pensamento conservador (OLIVEIRA FILHO, 2023) e as ideias da bancada evangélica (MELO JUNIOR, 2021) realizadas no âmbito do PEPOL.


Atualmente o PEPOL-Unicamp é coordenado por Alvaro Bianchi (Unicamp), André Kaysel (Unicamp), Daniela Mussi (UFRJ) e Rodrigo Passos (Unesp-Marília). Mais informações sobre o Laboratório podem ser obtidas seu (https://pepol.ifch.unicamp.br/), no Twitter (@pepolunicamp) e no Instagram (@peolunicamp).

 

Referências bibliográficas

ALIAGA, Luciana. Gramsci e Pareto: Ciência, história e revolução. Curitiba: Appris, 2017.
AMUSQUIVAR, Érika. Gramsci e a geopolítica: um debate sobre poder e território. Jundiaí: Paco, 2021.
ARECO, Sabrina. Passado presente: a Revolução Francesa no pensamento de Gremsci. Curitiba: Appris, 2018.
BIANCHI, Alvaro. José Guilherme Merquior e os marxistas brasileiros: diálogos e conflitos. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. no prelo, 2023. .
BIANCHI, Alvaro. O laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. São Paulo: Alameda, 2008.
BIANCHI, Alvaro; MUSSI, Daniela; ARECO, Sabrina (Orgs.). Antonio Gramsci: filologia e política. Porto Alegre: Zouk, 2019.
FERNANDES, Renato. Gramsci e Michels: intelectuais, partidos e oligarquização. Curitiba: Appris, 2023.
GALASTRI, Leandro de Oliveira. Gramsci, marxismo e revisionismo. Campinas: Autores Associados, 2015.
GIMÉNEZ, María Julia. Navegar el Atlántico a contramarea [recurso eletrônico] : la Fundación Internacional para la Libertad y la agenda liberal ofensiva en América Latina (2002-2016). 2021. Doutorado em Ciência Política – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2021.
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GÓES, Camila. Existe um pensamento político  subalterno?: um estudo sobre os Subaltern Studies (1982-2000). São Paulo: Alameda, 2018.
GÓES, Camila Massaro Cruz de. Gramsci e a dialética da tradução na América Latina: o caso das revistas Pasado y Presente e Presença. 2021. Doutorado em Ciência Política – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2021.
GONÇALVES, Rodrigo Santaella. Intelectuais em movimento: o grupo Comuna e a construção da hegemonia antiliberal na Bol;ivia. São Paulo: Alameda, 2015.
KAYSEL, André. As ideias da Guerra fria, a Guerra fria nas ideias: apontamentos sobre a transnacionalização do discurso político a partir do caso da Ligam Mundial Anticomunista (WACL) e da Confederação Anticomunista Latino-americana (CAL)) (1972-1984). Wirapuru, n. 5, p. 1–13, 2022. .
KAYSEL, André. Dois encontros entre o marxismo e a América Latina. São Paulo: Hucitec Editora : FAPESP : ANPOCS, 2012(Pensamento político-social, 9).
KAYSEL, André. Entre a nação e a revolução: marxismo e nacionalismo no Peru e no Brasil (1928-1964). São Paulo, SP: Alameda, 2018.
KAYSEL, André; MUSSI, Daniela. Francisco Weffort and the Dependency Theory: Populism, Class, and Nation. Latin American Perspectives, v. 49, n. 1, p. 91–106, 2022. https://doi.org/10.1177/0094582X211052016.
MELO JUNIOR, Sydnei Ulisses. Religiosos e conservadores [recurso eletrônico] : o pensamento político da bancada evangélica na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988). 2021. Doutorado em Ciência Política – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2021.
MONGES, Alma. ¿Hemos superado el Duelo? Democracia y Hegemonía en la obra de Mauricio Schvartzman. In: VVAAGramsci: la teoría de la hegemonía y las transformacio- nes políticas recientes en América Latina - Actas del Simposio Internacional Asunción, 27-28/8/2019. Asunción: Arandurâ, 2019. p. 109–127.
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OLIVEIRA FILHO, Michel Baltazar. A ideologia conservadora no parlamento: o discurso da direita na câmara dos deputados (2011- 2019). 2023. Doutorado em Ciência Política – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2023.
PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes; ARECO, Sabrina. Gramsci e seus contemporâneos. Marília; São Paulo: Oficina Universitária; Cultura Acadêmica, 2017.